segunda-feira, 20 de maio de 2013

Fruta-do-conde e carambola





Jornalista e escritor

 


19 de maio de 20130

A palavra cortesia,
hoje em dia, perdeu
o sentido: virou
sinônimo de brindes
corporativos ou
premiação

MARCELO PIRES*
marcelopirex@uol.com.br
Duas pessoas que trabalham comigo, sem combinar nada uma com a outra, resolveram fazer uma queridice e trouxeram _ no mesmo dia! _ frutas para dividir com minha família e com os nossos colegas.
Juliana trouxe carambola. Ilair trouxe fruta-do-conde. O dia ficou muito especial: a carambola e a fruta-do-conde são frutas lindas, além de deliciosas.
A carambola, fruta que veio da Índia, guarda uma constelação dentro de si, a gente vai cortando e vão surgindo estrelas, estrelas, estrelas. É uma fruta iluminada: tem a forma da noite, estelar, mas tem a luz do dia _ carambola é da cor do sol.
A fruta-do-conde é uma fruta pouco comum nestas nossas terras sulinas, é fruta que chegou no Brasil através da Bahia (veio, conforme pesquisei, das Antilhas). Ela não é do conde por acaso: chegou no país pelas mãos de um nobre, Diogo Luís de Oliveira, o Conde de Miranda, daí o nome da guloseima. A fruta-do-conde não esconde a sua majestade: caiu nas graças de dom João VI e foi assim que veio para o Rio, virando moda na corte.
Meu filho de cinco anos, por exemplo, nunca tinha visto uma fruta-do-conde: achou estranho aquele fruto escamoso, por fora quase pinha, por dentro quase creme. Fruta-do-conde é um peixe disfarçado de fruta: escamas por fora, carne branca por dentro.
E a fruta-do-conde que Ilair trouxe tinha um charme todo especial: lembrava um coração _ fotografei e vários amigos, juro, confirmaram a semelhança. Se duvida, vá lá olhar (facebook/marcelo pires).
O que me encantou muito nesta dupla surpresa é que tanto Juliana quanto Ilair trouxeram os regalos direto de árvores de quintal. Juliana tem carambolas no pátio de casa, colheu do pé. E a fruta-do-conde veio do pátio da filha de Ilair. É bom, de vez em quando, lembrar que fruta não nasce em gôndolas de supermercado.
Hoje em dia, no Brasil, já se plantam frutas-do-conde que nascem sem sementes. Declaro satisfeito: as nossas não, as nossas eram caseiras _ e apresentavam, orgulhosamente, todas as suas sementes, criando certo esforço na hora da comilança, valorizando a conquista e deixando ainda mais o doce da polpa.
Maçãs todo dia são maçantes. Existem frutas que comemos com mais frequência no dia a dia. Confesso que a dupla Carambola & Fruta-do-Conde quebrou a rotina. E deu um toque exótico aos nossos paladares.
Comento tudo isso para agradecer em público os carinhos da Juliana e da Ilair. E para testemunhar o quanto gentileza é saudável.
Gentileza? Os mais pragmáticos podem dizer que os gestos de Juliana e Ilair não se tratavam exatamente de gentileza _ mas de bajulação (já que elas trabalham comigo). Cuidado: quem pensa assim talvez esteja demasiadamente exposto a adulações. Eu sei que a palavra cortesia, hoje em dia, perdeu o sentido: virou sinônimo de brindes corporativos ou premiação de cartão de milhagem. Mas boa vontade, acredite, ainda pode ser apenas boa vontade _ colhida direto da árvore.
E uma breve cordialidade, em forma de carambola ou não, uma pequena atenção, materializada em fruta do conde ou outro tipo de doçura, têm o poder de transformar os nossos dias. É vitamina pra alma. E sempre dá os melhores frutos.
Gentileza.
Tá servido?

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FONTE: ZH - 19/5/2013

 

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