quinta-feira, 26 de março de 2009

ALUNOS COM DEFICIENCIA VISUAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Este trabalho tem como objetivo proporcionar ao professor da pré-escola alguns subsídios no sentido de ampliar seus conhecimentos em relação à criança portadora de visão subnormal, aprimorando conseqüentemente, sua atuação em sala de aula.
Para tal, é necessário abordar alguns aspectos em relação à clientela atendida na pré-escola do Instituto Benjamin Constant.
O Jardim de Infância, segmento da pré-escola dessa instituição, atende crianças cegas e de visão subnormal na faixa etária compreendida entre 4 e 7 anos de idade, adotando um regime de internato e semi-internato, segundo escolha da família.
No início do ano letivo, no período de adaptação escolar, as crianças são avaliadas a nível cognitivo, motor, sócio-afetivo e agrupadas em turmas segundo o nível de desenvolvimento em que se encontram. O trabalho pedagógico nessa fase é fundamentado num currículo específico na área da deficiência visual, objetivando proporcionar atividades diversificadas que favoreçam a ampliação do universo cognitivo, psicomotor, social e afetivo da criança portadora de deficiência visual.
Os alunos da pré-escola, como aqueles matriculados nos outros segmentos da instituição, são avaliados oftalmologicamente no período de férias, que antecede ao início do ano letivo. Portanto, quando se inicia o período escolar os professores já têm conhecimento sobre as patologias que seus alunos apresentam.
Tem-se observado que algumas patologias que não eram comuns na fase da pré-escola, tornaram-se mais freqüentes. É o caso da Coriorretinite Macular Congênita, da Atrofia Óptica e da Retinose Pigmentar.
Compreendendo que, neste período de desenvolvimento, uma estimulação adequada conduz a uma melhora sensível na qualidade do desempenho visual, o trabalho desenvolvido com a criança portadora de visão subnormal baseia-se fundamentalmente em conduzi-la de forma criteriosa e gradativa no educar de sua visão residual, na compreensão do que pode ver, despertando, dessa maneira, sua consciência visual.
Portanto, todas as crianças na pré-escola, consideradas portadoras de visão subnormal, são encaminhadas à Coordenação da Estimulação da Visão Funcional, para atendimento individualizado, independente de utilizarem recursos ópticos ou não.
Outro aspecto a ser abordado refere-se ao próprio trabalho desenvolvido em Educação Visual na pré-escola, implantado pelo Instituto Benjamin Constant, no início de 1994, através da Coordenação da Estimulação da Visão Funcional.
Nos anos de 1990 a 1991 houve uma tentativa de desenvolver um trabalho nessa área . Essa tentativa teve caráter voluntário por parte de especialistas que atuavam na instituição. Enfrentando uma série de dificuldades, inclusive quanto aos recursos disponíveis, humanos e materiais,ele foi interrompido. O atual trabalho desenvolvido em Educação Visual na pré-escola dá continuidade a essa primeira iniciativa, agora com recursos humanos e materiais adequados, apresentando a mesma fundamentação, que consiste no desenvolvimento da eficiência funcional da visão através de - estimulação e “aprendizagem para VER”.
É importante ainda acrescentar, que a realidade da criança portadora de visão subnormal envolve imperiosa necessidade de constantes estudos por parte dos educadores que com ela atuam, visando a contínua atualização de seus conhecimentos e o aprimoramento de sua atuação pedagógica.
O pensamento de Jean Dolent é extremamente pertinente ao encerramento desta introdução:

“ESCREVO NÃO PARA ENSINAR, MAS PARA ME INSTRUIR.”

Portanto, o trabalho ora apresentado está sujeito a modificações em função de estudos posteriores, bem como também, está aberto a sugestões e críticas por parte daqueles que já vivenciam experiências com crianças de visão subnormal.

I -VISÃO SUBNORMAL

1 - DEFINIÇÃO (1)

“Visão subnormal (VSN) é uma perda severa da visão que não pode ser corrigida por tratamento clínico ou cirúrgico nem por óculos convencionais. Também pode ser descrita como qualquer grau de enfraquecimento visual que cause incapacidade e diminua o desempenho visual.
O portador de VSN, dependendo da patologia, apresenta comprometimentos relacionados à diminuição da acuidade e/ou campo visual, adaptação à luz e ao escuro e percepção de cores”.

2 - CAUSAS (2)
- Congênitas: ocorrem no nascimento, sendo que muitas são de origem genética, Exemplo: Coriorretinite Macular; Catarata Congênita; Glaucoma Congênito; Albinismo e Retinose Pigmentar.
- Adquiridas: ocorrem por traumatismos, alcoolismo, drogas em geral, radiações, infecções ( sífilis, rubéola, toxoplasmose) ou derivadas de outras doenças (diabetes). Exemplos: Retinopatias; Coroidites; Glaucoma , etc.
Um dos aspectos mais importantes en VSN é a PREVENÇÃO: Aconselhamento genético; Campanhas de Saúde Pública; Cuidados Médicos; Campanhas Contra Acidentes de Trânsito; Alimentação Correta; etc

3 - ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A CRIANÇA PORTADORA DE VSN.

O indivíduo portador de VSN, a nível do ajustamento pessoal e social, encontra-se numa posição intermediária entre a realidade das pessoas que enxergam normalmente e àquela dos deficientes visuais totais.
Ao ser tratado como “cego” fica impedido de desenvolver de maneira eficiente sua visão residual; tem consciência que não é cego e vive com o constante medo da perda de visão. Sendo tratado como alguém com visão normal, suas reais limitações não são devidamente compreendidas, devido ao alto grau de expectativa que as pessoas com quem convive têm em relação às suas habilidades e capacidades. Em ambos os casos, o indivíduo com VSN tende a vivenciar um ajustamento desarmonioso causado pelos sentimentos conflitantes que experimenta como ressentimentos, culpa, ansiedade, frustrações. ( 3 )
Tal situação já era apontada por Myerson ( 1971 ), “ ao discutir problemas das pessoas com visão parcial, salientou que as suas dificuldades de ajustamento se devem à sua condição marginal (nem cegas, nem com visão). Mostrou que as crianças com visão parcial tendem a ser menos ajustadas do que as crianças cegas ou com visão.” (4 )
A experiência com crianças portadoras de VSN, no Instituto Benjamin Constant, tem nos apontado que a família é um dos aspectos mais importantes a ser considerado, principalmente por ser a primeira vivência sócio-afetiva dessas crianças e pelos fatores determinantes que influem em seu desenvolvimento e formação como indivíduos.
Ocorre que a família, por pertencer a um mundo objetivamente visual, não sabe como lidar com a criança de VSN. Para os familiares ela se torna um verdadeiro quebra-cabeça. Além disso, os pais, consciente ou inconscientemente, desejam que seus filhos pareçam “normais”. Desta forma, a criança com
VSN “protegida” ou “negligenciada” fica impedida de explorar, experimentar, testar suas capacidades e seus limites na aprendizagem visual, acarretando prejuízos em seu desenvolvimento global. (5 )
Educadores que atuam com crianças portadoras de VSN em fase pré-escolar no IBC, salientam que grande parte dessas crianças iniciam esta etapa escolar apresentando muitas dificuldades. As causas centram-se no fato de a família não ter tido a oportunidade de receber orientação adequada, onde os pais e a criança participassem de um programa de estimulação visual no período inicial do desenvolvimento entre 0 e 4 anos. Acrescentam ainda, que muitas famílias, apesar de receberem orientação adequada, continuaram a manter posturas indevidas, onde a superproteção conduzia a um relacionamento no qual a criança era tratada como “cega”.
Pelos aspectos apontados, a criança com VSN chega à pré-escola muitas vezes demonstrando:
-ausência de estimulação visual;
-restrição de experiências acarretando defasagens em seu desenvolvimento global;
-inconsciência de sua visão residual e de sua utilização de modo eficiente;
-desinteresse e falta de curiosidade na busca e exploração de estímulos visuais;
-interpretação deturpada de imagens visuais não muito claras.

As crianças portadoras de VSN merecem especial atenção, pois como a visão é uma função que requer aprendizagem, sua qualidade pode ser sensivelmente melhorada no período da primeira infância, através de orientação adequada e específica (Educação Visual).
Portanto a família deve ser devidamente orientada, despertando a consciência de que irá proporcionar uma melhora significativa na eficiência visual da criança, oferecendo-lhe: ( 6 )
- vivências variadas relacionadas ao lazer: jogos; passeios; televisão; esportes; etc...
- incentivo à participação nas atividades domésticas e de higiene pessoal: cortar as unhas; etc ...
- incentivo as atividades escolares proporcionando apoio e compreensão às suas reais possibilidades e limitações
- organização do ambiente físico doméstico de modo a facilitar uma locomoção segura e independente
- aceitação quanto ao recurso óptico ou não óptico prescrito, orientando a criança com VSN
quanto à utilização e cuidados específicos
A pré-escola é uma etapa extremamente enriquecedora no desenvolvimento de qualquer criança. Neste período dá-se muita ênfase à participação ativa dos pais em todo contexto educacional. É trabalho do educador conscientizar a família da criança portadora de VSN quanto à importância de um relacionamento familiar baseado no companheirismo e na aceitação de suas possibilidades e limitações, e do quanto tal conduta poderá acrescentar positivamente ao seu desenvolvimento global. ( 7 )

4. CARACTERÍSTICAS DO ALUNO DEFICIENTE VISUAL NA ÁREA DAS FUNÇÕES COGNITIVAS. (8)

- PROCESSOS PERCEPTUAIS : dificuldade para:
- localização espacial
- conhecimento das qualidades espaciais dos objetos

- PROCESSOS CONCEPTUAIS :
- prejuízo na formação de conceitos que necessitem da imagem visual

- ASPECTO INTELECTUAL: restrição na:
- extensão e variedades de experiências
- habilidades para usá-las
- controle do ambiente em relação a si mesmo.

- ASPECTO MOTOR :
- perda na justeza dos passos
- diminuição do equilíbrio
- deficiência dos reflexos de proteção


- ASPECTO VISO-MOTOR ( 9 ): dificuldade na realização de tarefas que envolvam:
- preensão ( movimento de pinça )
- encaixe ( enfiar, enroscar, abotoar, atar, perfurar, alinhar )
- superposição e colagem
- recorte ( livre, linhas, formas, gravuras )
- ligar pontos e labirintos
- cobrir traços e seguir linhas paralelamente
- copiar formas e ritmos gráficos

- AJUSTAMENTO PESSOAL E SOCIAL:
- dificuldade de ser compreendido em suas reais limitações
- restrição no aproveitamento de vivências sociais ( de lazer, esportivas, etc... ) por não captar detalhes dos ambientes sociais
- tensão emocional constante - medo de perder a visão residual ( influência familiar ).

II -FUNCIONAMENTO VISUAL
Segundo Natalie Barraga ( 1978 ), para maior clareza do processo de aprendizagem de crianças com VSN, devemos considerar a natureza de todo o sistema visual.

“ A aprendizagem visual é dependente, não apenas do olho mas também da capacidade do cérebro de realizar suas funções, de aprender qualquer informação vinda dos olhos, codificando, selecionando e organizando em imagens, e armazenando para associação com outras mensagens sensoriais ou para relembrar mais tarde.
A capacidade do funcionamento visual depende de desenvolvimento - quanto mais a criança olha, mais estimula os canais cerebrais.” (10)

É considerado por Marianne Frostig ( 1980 ) como percepção visual, “ a faculdade de reconhecer e discriminar os estímulos visuais e de interpretá-los, associando-os às experiências anteriores .” (12)
O desenvolvimento do potencial visual em crianças com VSN é raramente espontâneo e automático, sendo necessário que lhes oriente o processo de discriminação entre as formas, contornos, figuras e símbolos que nunca seriam trazidos à sua atenção. ( 12 )
A criança com VSN que nunca foi estimulada a“ olhar “, tem percepções visuais deturpadas. A busca contínua com o(s) olho(s) permite à criança concentrar-se em detalhes até então não percebidos, reduzindo o confuso efeito anterior, permitindo que ela adquira noções perceptuais reais, das variadas formas existentes no universo visual onde está inserida.(13)

Um comentário:

  1. Oi! Sou professora da Ed. Especial no município de Valença/RJ e a partir deste ano vou trabalhar com alunos portadores de VSN. Gostaria de dicas de atividades para desempenhar com estas cçs, que por sua vez tb apresentam deficit cognitivo. Aguardo retorno. Obrigada!!

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