De Guiomar Terra
QUANDO SETEMBRO VIER
Quando setembro vier, um outro sol, com matizes mais coloridos, com seus raios muito, muito mais fulgurantes e mais, muito mais quentes chegar, mandará embora esta invernia que açoita os pampas e afastará todos os frios, fazendo menos tristes os bichos, as árvores, as gentes.
Quando setembro vier e com ele chegarem os ares da primavera, da terra em cio brotarão sementes adormecidas, flores que desejam apenas florir, dar-se por inteiro em cores e perfumes; folhas verdes magicamente vestirão todos os galhos nus, e até dos pássaros feridos ouviremos os cantares, trazendo alento aos dias mais cinzentos.
Quando setembro vier afastando a invernia, as meninas e meninos de calças curtas e pés descalços, continuarão indo às suas escolas, continuarão brincando em seus bairros, continuarão dormindo em seus catres com cobertas ralas, continuarão trabalhando como agora o fazem, enquanto os senhores continuarão a embriagar-se bebendo vinhos caros.
Quando setembro vier, abrir-se-ão todas as janelas e todas as portas, de todas as casas e de todas as almas, de todos os peitos, de todos os rostos. A lábio algum será permitido abrir-se em meio sorriso, apenas poderão abrir-se em sorrisos largos, inteiros, vibrantes, pondo nova luz em cada olhar.
Quando setembro vier, mandarei embora esta saudade que me judia, que me aniquila, que me humaniza, que me faz gente e me faz chorar, e até sentirei saudade da saudade sentida.
Quando setembro vier, deixarei a criança que me habita jogar fora o bom senso e as convenções: pés descalços e roupa pouca, brincarei na chuva mansa, abrirei boca e olhos e sorverei da água da sabedoria, esquecida do tanto que arranquei de mim a cada lágrima, derramada a cada dia, a cada estação, gota a gota.
Quando setembro vier, enfrentarei minha própria covardia; erguer-me-ei, sacudirei a poeira acumulada na invernia, que me atingiu corpo e alma, e como uma fênix, renascerei das cinzas; de liras douradas tirarei uma nova melodia e seguirei cantando ao vento a canção da vida, que ensina ser a vida curta demais para os rancores, que em minha alma não cabem ódios e dores, que esta marca não pode caber em mim.
Quando setembro vier, hei de colher flores simples e singelas pelos campos, para uma oferenda aos simples e singelos amigos e familiares que possuo, a quem tanto quero, que não sejam tantos, e que desejo sejam, bem mais que singelos, sinceros, eternamente, profundamente sinceros.
Quando setembro vier, que traga consigo, para sempre, o amor, a compreensão e o respeito entre as pessoas, a compaixão pelos que sofrem, o alívio a todas as dores, a esperança nas desilusões, a paz entre os povos; que todos os privilegiados com saúde e as vidinhas organizadas, envergonhem-se de seus lamentos, compreendam o dever de serem felizes.
Quando setembro vier saibamos ser felizes e simples, simplesmente...
Quando setembro vier, um outro sol, com matizes mais coloridos, com seus raios muito, muito mais fulgurantes e mais, muito mais quentes chegar, mandará embora esta invernia que açoita os pampas e afastará todos os frios, fazendo menos tristes os bichos, as árvores, as gentes.
Quando setembro vier e com ele chegarem os ares da primavera, da terra em cio brotarão sementes adormecidas, flores que desejam apenas florir, dar-se por inteiro em cores e perfumes; folhas verdes magicamente vestirão todos os galhos nus, e até dos pássaros feridos ouviremos os cantares, trazendo alento aos dias mais cinzentos.
Quando setembro vier afastando a invernia, as meninas e meninos de calças curtas e pés descalços, continuarão indo às suas escolas, continuarão brincando em seus bairros, continuarão dormindo em seus catres com cobertas ralas, continuarão trabalhando como agora o fazem, enquanto os senhores continuarão a embriagar-se bebendo vinhos caros.
Quando setembro vier, abrir-se-ão todas as janelas e todas as portas, de todas as casas e de todas as almas, de todos os peitos, de todos os rostos. A lábio algum será permitido abrir-se em meio sorriso, apenas poderão abrir-se em sorrisos largos, inteiros, vibrantes, pondo nova luz em cada olhar.
Quando setembro vier, mandarei embora esta saudade que me judia, que me aniquila, que me humaniza, que me faz gente e me faz chorar, e até sentirei saudade da saudade sentida.
Quando setembro vier, deixarei a criança que me habita jogar fora o bom senso e as convenções: pés descalços e roupa pouca, brincarei na chuva mansa, abrirei boca e olhos e sorverei da água da sabedoria, esquecida do tanto que arranquei de mim a cada lágrima, derramada a cada dia, a cada estação, gota a gota.
Quando setembro vier, enfrentarei minha própria covardia; erguer-me-ei, sacudirei a poeira acumulada na invernia, que me atingiu corpo e alma, e como uma fênix, renascerei das cinzas; de liras douradas tirarei uma nova melodia e seguirei cantando ao vento a canção da vida, que ensina ser a vida curta demais para os rancores, que em minha alma não cabem ódios e dores, que esta marca não pode caber em mim.
Quando setembro vier, hei de colher flores simples e singelas pelos campos, para uma oferenda aos simples e singelos amigos e familiares que possuo, a quem tanto quero, que não sejam tantos, e que desejo sejam, bem mais que singelos, sinceros, eternamente, profundamente sinceros.
Quando setembro vier, que traga consigo, para sempre, o amor, a compreensão e o respeito entre as pessoas, a compaixão pelos que sofrem, o alívio a todas as dores, a esperança nas desilusões, a paz entre os povos; que todos os privilegiados com saúde e as vidinhas organizadas, envergonhem-se de seus lamentos, compreendam o dever de serem felizes.
Quando setembro vier saibamos ser felizes e simples, simplesmente...
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